O mercado de games na América Latina já fatura mais de US$ 130 bilhões por ano. Esses números mostram que o segmento de jogos eletrônicos é, cada vez mais, uma indústria com oportunidades e produtos para todos os públicos e gostos. Ainda assim, frequentemente ouvimos dizer que os videogames são brinquedos “de garotos”. As pesquisas, porém, indicam que as mulheres estão assumindo os controles.
Levantamentos realizados em 2018 apontam que mais de 58% dos gamers do Brasil são do sexo feminino. As mulheres dominam o ambiente de jogos eletrônicos no País, representando um grande e importante grupo de consumo para toda a cadeia nacional de desenvolvimento e venda de games – e não apenas por conta dos joguinhos de smartphones. Embora os jogos mobile estejam em franca expansão, estimativas apontam que o setor de jogos em PCs deve alcançar US$ 390 milhões em faturamento no mundo até 2021.
O número de mulheres que se definem como PC Gamers nunca foi tão grande, assim como a participação das “meninas” cresce a cada dia no mercado profissional, nas competições de e-Sport. Esse cenário é apenas mais um dos inúmeros reflexos da ascensão da mulher na sociedade atual.
Para quem vende ou desenvolve games e equipamentos relacionados a esse mercado, a inclusão das mulheres não poderia representar uma notícia melhor. As garotas estão à procura de novos jogos e, por consequência, de hardware mais poderoso que maximize suas experiências como jogadoras. As PC Gamers há muito perceberam as vantagens de um equipamento mais robusto, como ter uma plataforma que simule melhor a realidade virtual, com capacidade para realizar tarefas complexas que exigem mais poder de processamento, além de contar com uma variedade maior de títulos e a possibilidade de participar de ambientes multiplayer sem pagar taxas adicionais.
O contato ainda na infância e na adolescência com esse ambiente vem também influenciando o futuro das mulheres. Uma recente pesquisa realizada no Reino Unido mostrou como os jogos eletrônicos podem impactar a escolha da carreira profissional – e o resultado foi surpreendente. Segundo dados da pesquisa, garotas que jogam videogame por mais de nove horas por dia têm três vezes mais chances de seguir carreira nas áreas de Tecnologia, Engenharia, Ciência e Matemática. O estudo analisou o interesse das meninas por videogames em sua adolescência e comparou as carreiras que seguiram na faculdade e na vida profissional.
Outro benefício da maior participação feminina no mercado é a forma como os games têm proposto seu conteúdo e contribuído na disseminação da igualdade de gênero. Existem inúmeros exemplos de jogos que alteraram significativamente o visual das personagens para melhor representar a figura da mulher. Os trajes femininos apelativos, por exemplo, estão cedendo espaço para novas heroínas cheias de poder e energia. A tendência é que as empresas continuem ouvindo esse público na hora da tomada de decisões estratégicas sobre seus produtos e sigam auxiliando a mudança dos discursos de segregação, que excluem a perspectiva feminina da indústria.
Para se beneficiar desse movimento positivo, as revendas e os demais profissionais do setor de jogos devem se apoiar nessas informações para apresentar as novidades do mercado e aproximar ainda mais as mulheres do ambiente gamer. Além de cativar novas e poderosas consumidoras, essas empresas certamente podem atuar para desfazer a ideia de que os videogames são apenas brinquedos ou algo exclusivo do universo masculino. As mulheres, nesses novos projetos, podem assumir todos os papeis: criadoras, desenvolvedoras e consumidoras dos jogos.
Ao abrir espaço para todos os gêneros, a indústria de games favorece a presença das mulheres no segmento, ganhando aliadas e reforçando a lucratividade de toda a cadeia do setor. Além disso, adotar uma postura inclusiva traz ganhos para a imagem e alinha as empresas da área à realidade atual.
É preciso que as empresas olhem com atenção e apoiem a chegada dessas jogadoras e profissionais a outros níveis do mercado. É possível pensar em um cenário diferente, em que todas as mulheres tenham seu potencial reconhecido. Seja no âmbito da representatividade ou do potencial de consumo, a indústria dos videogames deve estar atenta às demandas de um mundo globalizado e cada vez mais inclusivo para alçar voos ainda maiores, alcançando e expandindo suas propostas para diferentes segmentos e públicos. É hora de potencializar as oportunidades e entender que um bom jogo é aquele em que todo mundo ganha.
Por Flávio Costa, Sócio-Diretor da DATEN